Janeiro de 2001, depois de um final de semana bem divertido
na fazenda da tia Dirlei, voltei para a casa com uma caixinha na mão, dentro da
caixinha lá estava ela, Pupila! Com 45 dias e menor que um ratinho, aquela
bolinha preta de patinhas brancas me encantou.
Minha mãe falou que só iríamos ficar com ela duas semanas
como teste, pois logo voltaríamos para a fazenda. Essa duas semanas viraram 14
anos e 8 meses!
Logo a Pupila virou Pupi, nome de cachorro, do meu cachorro!
Eu lembro até hoje a primeira noite que ela dormi lá em casa. Coloquei ela
no meu quarto e fechei a porta para que ela não saísse. Chorou a noite todinha
com saudades da mãe e fez vários cocôs fedidos nos meu quarto. Logo eu aprendi
que era melhor deixar a porta aberta e deixa-la livre para fazer cocô bem longe
do meu quarto. As primeiras camas dela eram feitas de caixa de papelão que
eu cortava uma porta (e até janelas) e colocava uma almofada verde dentro. Essa
caixa durava um mês e lá ia eu fazer outra casinha. Até que a minha
mãe também se encantou pela pequena e a Pupi finalmente ganhou uma cama de gente,
ou melhor de cachorro.
Pupi sempre foi muito educada, tirando o fato de latir
muito para toda vez que alguém entrava em casa, fora isso, ela era uma lady! Quando queria
fazer as necessidades sentava na porta de casa e começava a chorar para descer para fazer na grama. Nunca fez xixi e cocô fora do lugar (pena que ela não conseguir ensinar isso para a Dona Salvelina). E era também um cachorro de muita
personalidade. Não gostava de crianças pequenas (acho que ela pegou trauma, por
ser um cãozinho muito pequeno as crianças de 3 anos ou menos costumavam
machuca-la), não gostava de outros cachorros, acredito que ela sempre pensou
que era gente pois não gostava nada de se relacionar com outros caninos, passou a vida toda donzela. Gostava
de ver TV, nas noites mais frias gostava de dormir na minha cama, mas não
gostava de colo, nunca foi aquele cachorro sedento por atenção. Gostava de
deitar-se ao nosso lado para ganhar carinho, mas nunca no colo. Passava hora
sentadinha ao lado da Vó Nelly enquanto ela fazia crochê. Dos poucos defeitos
que a Pupi tinha, um em especial era culpa da Vó que dava comida (todo tipo de
comida – até aqueles proibidos para cachorro, mas fazer o que né?) para ela da
mesa e mal acostumou ela a pedir comida enquanto a gente comia.
Se a Pupi não gostava de alguém, era certa que esse alguém
não era uma boa pessoa. Ela nunca errava! Sorte que ela gostou do Gui desde o
começo!
Mas de uns tempos para cá a bichinha começou a ficar
fraquinha, achávamos que era por conta da idade – 14 anos (acho que por volta
dos 80 anos na “nossa” idade) – reforçamos a alimentação, até suco verde a
Pupinha estava tomando. Só que no último mês ela estava bem pior que o do
costume, com falta de ar, dificuldade para dormir. Achávamos que ela estava com
algum problema do coração e marcamos um cardiologista. Exames feitos, exame de
sangue, Raio X, Ecodoppler e percebemos um liquido no pulmão. Tiramos um pouco
para biopsia e descobrimos que a Pupi estava com câncer em estado terminal, já
com metástase espalhada por tudo, nisso as crises de falta de ar pioraram. Em um
dia chegamos a tirar 100ml de liquido do pulmão, isso tudo num cãozinho de 4,5
quilos. Ela estava sofrendo muito e a gente também por vê-la sem conseguir
respirar e sem poder fazer nada, com o pescoçinho 24h virado para cima tentando buscar mais ar, sem
dormir, tendo crises piores na hora de comer, ou comia os respirava (a fome
sempre venceu). Então ontem, depois de
muito conversar, com muita muita muita muita dor no coração chegamos à conclusão
que seria melhor deixa-la partir. Estávamos sendo egotistas por não deixar ela ir,
já que o sofrimento era muito grande e infelizmente não havia opções de
tratamento.
Ontem, o caminho de casa para o hospital foi horrível, mas eu
tentei não chorar muito, pois eram os meus últimos minutos com ela e queria
aproveitar ao máximo. Coloquei a cama dela do meu colo e fui fazendo carinho até
chegar lá!
Chegando lá o Dr. Bruno explicou tudo direitinho, assinamos
a ficha de autorização e era chegada a hora. Ela estava serena (apensar da
falta de ar), primeiro o Dr, injetou o mesmo remédio que causou a morte do Michael
Jackson, um anestésico de primeiro fez ela dormir e logo em seguida acusou
parada respiratória e cardíaca quando ela já estava inconsciente e quando já estava provavelmente morta foi injetado um remédio para paralisar a atividade
cerebral, caso ainda houvesse. Fiquei todo tempo ao lado dela, e foi uma sensação
horrível, mas ao mesmo tempo confortante perceber que ela não estava sofrendo
mais. Não desejo isso para ninguém.
A Pupi me ensinou muito e apensar no meu sofrimento no dia
de hoje sou muito grata a Deus por ter me dado a possibilidade de ter convivido
com a Pupi!
Pupi, eu te amo hoje e sempre!
“Os cães são o nosso
elo com o paraíso. Eles não conhecem a maldade, a inveja ou o descontentamento.
Sentar-se com um cão ao pé de uma colina numa linda tarde, é voltar ao Éden
onde ficar sem fazer nada não era tédio, era paz.”
Milan Kundera